Saturday, March 11, 2006

02 - A primeira vez


A primeira vez que vi a Emídio parece-me que ela ainda estava em obras. Levou-me lá o meu querido avô Malveiro.

Da exposição da Emídio

Saímos de casa (na Praça Gil Vicente) e andámos muitíssimo até que chegámos a um baldio, umas obras, ali nascia um edifício. Disse-me: Depois um dia vens para aqui estudar.

Confesso que não gostei. Aquilo pareceu-me uma ameaça, o anúncio de que seria para ali desterrado, era longíssimo de casa, à volta só havia lama e oliveiras. E tinha grades. Tudo aquilo me pareceu um pouco sinistro. Era o primeiro grande edificio que conhecia.
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Por acaso confesso que uns anos depois quando a hora chegou, a coisa piorou um pouco mais. Explico: Na primeira aula, na sala de Canto Coral, um anfiteatro onde no Ciclo também se dava Religião e Moral, o professor informou-nos que a partir daquele momento tínhamos deixado de ser crianças (eu tinha 10 anos) e que por essa razão nos passaria a tratar por Sr. e apelido!
Em vão nos entreolhámos tentanto perceber assim de repente quem seriam os senhores Fernandes, Castanheira, Teixeira, etc. que constavam da chamada.
Contei isto lá em casa e o meu pai com ar grave até deu a entender que aquela escola era mesmo a sério.
Por acaso aquilo não aguentou um dia. Muito rapidamente reapareceram sorridentes os Luíses, os Carlos e os Zés. Empate técnico, portanto. Mesmo assim sobrou um Teixeira de Almeida e um Reis Duarte, ainda estou para saber porquê. Coisas. Mas o abanão estava dado. Aquilo ia ser muito diferente da Escola Primária. E foi.
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Estive na Emídio vários anos. Fiz lá o Ciclo Preparatório (a António da Costa não tinha instalações suficientes), depois o Curso Geral do Comércio e finalmente a Secção de Admissão ao Instituto Comercial. Não levem a mal que dispense alguma cronologia, que confunda os cursos, os anos, os colegas. Foi na Emídio, é quanto (me) basta.
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