Saturday, March 11, 2006

05 - Os intervalos

Ponham-nos do lado do Activo. Era nos intervalos que convivíamos (conviver, viver com). Era nos intervalos que trocávamos os cromos, que discutíamos tudo e mais alguma coisa, que aprendíamos os nomes uns dos outros, que inventávamos jogos, que nos relacionávamos enquanto pessoas.

[Senhores pedagogos, os intervalos foram para mim em muitos aspectos mais importantes do que a maioria das aulas. Na feitura de horários, sff não fazer nada, a não ser alargá-los. Por favor não pensem sequer em "programá-los", "enquadrá-los". Ou são livres ou não são intervalos . Mais, uma aula, boa ou má, é como uma fotografia, tem de ter uma moldura que a separe de outra ou do ruído envolvente. É como uma música que merece sempre um pouco de silêncio antes e depois. Já tive muitos horários em que só havia tempo para se sair de uma e entrar noutra. Errado! Após uma aula convém que respiremos, que falemos, convém que pensemos, que nos espreguicemos. Não ter intervalo é o mesmo que apagar antes de tempo o quadro da aula anterior].

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Ah, faltar à aula de Desenho, duas horas chatérrimas de desenho à vista, nas quais não saía mais que uma jarra torta, emporcalhada e sempre com sombra do lado direito. Jarra que nunca endireitava mesmo se ensaiada vezes sem conta lá em casa, com o meu pai a ajudar e tudo.

Ah, Faltar à aula de Desenho, duas curtas horas, ir para as traseiras das Oficinas comer batatas fritas, ao sol. Ainda hoje poucos luxos se lhe comparam.

Variante de contingência: Comer batatas fritas dentro da aula, encolhido para não me verem, uma espécie de intervalo clandestino. (Agora percebo por que é que o desenho da jarra ficava emporcalhado).

Podem pôr no Activo essas aulas de Desenho, as das batatas fritas e as das gazetas. As outras não.

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Naquele primeiro ano do Ciclo Preparatório a 2ª feira foi sempre o dia da semana que mais me rendeu.

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