Saturday, March 11, 2006

08 - A Ginástica

As aulas de Ginástica foram dos piores sacrifícios que fiz na Emídio. Mas deu-me para ver que cada um é para o que nasce.
No andebol, enquanto o Afonso, o Monteiro ou o Dias pegavam na bola de andebol com uma só mão e mergulhavam na pequena área lançando-a com violência e estilo sobre o pobre do guarda-redes que estivesse de serviço (muitas boladas levou o meu grande amigo Castanheira), eu lá tinha que a agarrar com as duas mãos como se estivéssemos no básquete.
Por essas e por outras é que a minha quotação era, digamos, algo baixa e as equipas quando se formavam faziam de conta que não me viam.

Depois, o cansaço de andar a correr naquele imenso ginásio, ao fim da primeira volta já não podia com os bofes. E as cordas? Tentar subir à corda sempre com alguém cá em baixo a dizer “Vá lá, despacha-te” e o professor a gritar “Já lá devia estar!”, que embora fosse frase automática que lhe ouvi dezenas de vezes provocava algum efeito anímico mas nenhuma força muscular.

Acresce que as miúdas adora- ravam os que jogavam à séria, em especial os heróis dos jogos Comércio - Indústria, os que marcavam golos. Os grandes. (De certo modo acho que cresci quando já não valia a pena, adiante). O que me remetia para uma preocupante secundarização.
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Na Emídio aprendi que praticamente só namorava quem marcava golos.
De certo modo continua a ser assim, os jogos é que mudam.
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E no fim tínhamos de tomar duche. O professor João Coutinho, a quem ternamente apelidámos de Funquecas, ia ele próprio, himself, ao balneário, ver se de facto estávamos todos debaixo da água gelada ou se simplesmente a tínhamos deixado a correr para disfarçar. Este professor, diga-se, era muito respeitado, tinha uma autoridade natural que em grande parte lhe vinha da competência.

Quando dividia a turma em pequenos grupos que punha a correr à volta da escola naqueles horríveis dias de calor, escolhia-me a mim para cabeça de um desses grupos por forma a que fosse eu, o mais pequeno, a marcar o ritmo.


Foto do professor Coutinho pesquisada e cedida pelo colega João Aldeia a quem agradeço a amabilidade


Deixem-me só contar esta: O meu respeito e consideração pelo professor Funquecas era tão grande que quando uma vez ele nos cronometrou nuns quaisquer 200 metros ou semelhante, ao cortar a meta ouvi da sua boca a informação “dois-dez-cinco”. Não obstante ter chegado em último lugar senti-me medalhado!


Nunca mais esqueci este tempo de dois minutos, dez segundos e cinco centésimos. Nem sei já a que distância correspondeu. Mas ainda hoje e já cinquentão, quando esporadicamente dou umas corridinhas na Costa, dou por mim a pensar nestes dois-dez-cinco e sempre aguento um pouco mais.

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Gostaria muito que ainda fosse possível dar um abraço ao professor Funquecas.


Deixo-o aqui para o caso de a sua memória o querer receber.

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